CostaPé2019
Grande Caminhada de 1.200 kms pela costa Portuguesa
com cheiro a mar!...
Cronica Fevereiro do Projeto Costapé2019.
24.02.2019 COSTAPE ETAPA 2B
Povoa do Varzim - Porto 42 kms
Toca a levantar cedo. Dia de chegar ao Porto. Testo o corpo: costas, check; ancas check; joelhos, check; pés… mais ou menos. Mas dá para caminhar.
Sobramos três. Atraso-me um pouco, uns 10 minutos, culpa do biorritmo, um pouco alterado. Depois do tratamento vip que apliquei nas bolhas, começo a caminhar, meio de lado e lentamente para escolher a melhor forma de pousar o pé. Sem parar. Espetacular a capacidade de regeneração do nosso corpo. O cérebro vai registando tudo ao pormenor, esquecendo as pernas.
Pequeno-almoço num café da avenida, na companhia de senhoras simpáticas, a quererem saber tudo e a contarem, também, histórias da vida delas.
Sete da manhã, céu azul. Passamos para a manga curta. Vila do Conde, colada à Póvoa, é uma lindíssima cidade, cheia de história da faina do mar. Fotos e mais fotos. Cruzamo-nos com peregrinos, muito sérios e baralhados por caminharmos em sentido contrário ao Caminho de Santiago. As pessoas desejam-nos “bom caminho”, independentemente de nos verem a ir para sul.
Avançamos e são cada vez mais a fazer o seu exercício matinal. Correr, caminhar, de bicicleta, e muitas em momentos zen. Quilómetros de passadiços de ecovias e ciclovias. Praia, sol, corpos ao banho, casais com miúdos a brincar na areia como se tivessem em casa. Chamo a isto qualidade de vida. Um grande dia de sol, adivinhava-se. Por sorte apanhamos maré vazia, com pessoas a passearem pela areia molhada e a molharem os pés.
O nosso ritmo é forte, num piso regular. Muita gente a passar por nós e a cumprimentar-nos. Dá-me a sede e peço uma garrafa de água num café. Mulheres do norte simpáticas, famílias de pescadores que montaram cafés em lugares onde passa toda a gente. “Queria uma garrafa de litro e meio, por favor”, digo eu. E a mulher: “Amor, fresca ou natural?” Uma ternura. Peço fresca.
Um mundo junto ao mar devido ao dia que se pôs. Almoçamos num hipermercado em Aldeia Nova, sopa e arroz de bacalhau, delicioso. Filas nos restaurantes, grandes vidas. Começamos a ver as horas e a possibilidade de apanhar os transportes de regresso a casa um pouco mais cedo. Toca a andar.
Depois de passarmos por zonas onde se veem vestígios de pesca artesanal, desde barcos a artefactos de pesca, com casas baixinhas e coloridas, chegamos a Matosinhos. Apanhamos a hora a seguir ao almoço, por isso toda a gente se concentra no calçadão em frente ao mar. Uma multidão.
Atravessamos Leixões pela ponte levadiça, e Porto, aí vamos. Muitas pessoas e carros parados à espera de lugar, a lembrar o passeio dos tristes. Os finos que bebemos em Leixões deviam ter muitas octanas, porque olhamos para o relógio e temos que acelerar.
A entrada na Foz do Douro é mágica, assim como toda a zona ribeirinha. Mais uma vez a dor de barriga a chatear, e desta vez também aos meus colegas. Como não existem casas de banho públicas na marginal, procuro um quiosque e peço para ir ao WC. Homem antipático manda-me consumir. Peço um café, um euro. Casa de banho ocupada. Desisto. O arrogante ainda me pergunta se os meus amigos também querem café. Faltam casas de banho públicas num local virado para o turismo.
Depois do pôr do sol, a última tirada é feita em bom ritmo, até S. Bento, o destino final. Muita gente na Rua das Flores, mais umas fotos e chegamos depressa. A tempo do António Carvalho apanhar o expresso ainda antes das 20 horas, e eu e o Gonçalves o comboio para o Entroncamento.
Um agradecimento a todos os que participaram neste fim-de-semana muito intenso, em especial aos que me acompanharam no domingo. Percorrendo estas distâncias, o corpo divide-se em dois: as pernas já não são nossas e a mente, essa, guarda religiosamente cada imagem, cada sensação, pois as paisagens são um deslumbre.
Entrei em casa às 22h30, ótimo para ir trabalhar no dia seguinte.