Saída sexta-feira de Fátima no Expresso em direção a Monção. Em Monção tinha ligação com um expresso vindo do Porto que tinha como destino Melgaço. Já de noite em Melgaço apanhei um táxi do Sr. Paulo Seixo. O homem certo num local certo. Levou-me ao Alojamento Local e como precisava dele no dia seguinte, mais tarde fazia-mos as contas. Dormi no AL Inês Negra apesar de uma falha no poliban, valeu a pena. Um serviço mínimo onde não há muitas escolhas . quarto especial de casal e filho com cozinha sala etc a um preço acessível.

No Sábado de manha as 8 horas estava ja o táxi do P. Seixo a porta, entrei e fomos beber um café. Depois durante a viagem uns 22 kms foi um autentico cicerone, a explicar tudo o que eu via na paisagem, quase uma viagem guiada. Depois disse me que tinha uma empresa de actividades turísticas enfim muito polifacetado. Também me foi avisando para o perigo do gelo na caminhada que eu pretendia fazer, estávamos a subir a serra e a temperatura a descer. Eu ia olhando para o mostrador do automovel e ficava atento e atualizado. Ao chegar a Castro Laboreiro fui “largado”. Importante é que se precisasse de ajuda tinha ali uma pessoa que conhecia bem o terreno; ideal para quem quiser fazer ou organizar atividades outdoor naquela zona. Mais um café, e preparei-me para começar a caminhar com -5º.

Como tivesse passado por um portal do tempo e recuado 100 ou 200 ou 300 anos. Comecei a navegação e a caminhar num caminho centenário e que é lembrado na historia que só de mulas é que era percorrido.

“Há cerca de 100 anos, para ir da vila de Melgaço para Castro Laboreiro, a viagem fazia-se por um antigo e tortuoso caminho que passava por Fiães e Alcobaça. A viagem fazia-se geralmente recorrendo a animais (mulas, burros ou cavalos) e levava de 6 a 8 horas dependendo da carga.”

Tirei fotografias até ficar de alma cheia. É surreal a natureza vai tomando conta de cada pedra de cada casa que o tempo abandonou. Caminhos ladeados de verdes pedras que o sol custa a penetrar e o chão de lajes gastas onde não passava uma carroça. O arvoredo principalmente carvalhos com liquens e musgos nos troncos.

“Estes pormenores são-nos contados, na primeira pessoa, num artigo publicado no jornal "A Neve", na sua edição de 18 de Novembro de 1920: "Foi durante a viagem de Melgaço para Castro Laboreiro que nasceu a ideia da fundação do "Primavera Sport Club" e da criação do jornal "A Neve".

Éramos dois os viajantes ou por outra os caminhantes, pois a pé é que nós tivemos de transpor essas montanhas que separavam Melgaço de Castro Laboreiro. Saímos dos "Pereiras", sito na Calçada, pelas 13 horas, em direção à nossa querida Montanha.

Até ao cimo da Costa da Rolha, a nossa conversação recaiu sobre assuntos vários, falando não raras vezes em Amor. A conversa foi recaindo sobre Castro Laboreiro, nossa terra e digo nossa terra porque me orgulho de ter nascido nesta terra onde à honradez ainda se presta subido culto. Já acima de Fiães, diz-me o companheiro: "Como me sentiria feliz se Castro Laboreiro possuísse um jornal para defender os seus interesses e um club e aonde todos os conterrâneos se reunissem divertindo-se e instruindo-se ao mesmo tempo, incutindo uns nos outros o sagrado dever de pugnar pelos interesses comuns que são os interesses desta terra que se despe de todos os objectos para nosso interesse, tratando-nos como mãe. Estava lançada a ideia. Como eu também ansiava pela prosperidade da terra que carinhosamente susteve os meus primeiros passos!”

 

 Os terrenos mais férteis com algumas cabras e pouco mais. Ouvia-se os cães a distancia , ou eram eles que me ouviam. Devido a inclinação do caminho, o seu leito levava agua e as pedras estavam escorregadias da humidade para agravar havia o gelo. A progressão foi muito lenta, nem valia a pena os bastões porque as mãos tinham que estar livres para irem ao chão a qualquer altura. Fui passando por pontes feitas a mão com pedras robustas e talhadas para lugar que foram concebidas. A temperatura devagar ia subindo, mas não muito. A água essa jorrava por todo o lado e começava a ficar com o pés húmidos. Tive que sair do caminho porque o caudal tinha aumentado e desviei-me da linha de água. Depois de transpor um pequeno muro estava na estrada municipal. A intenção era de visitar as aldeias periféricas da mesma.

Se formos imaginativos, ao passarmos por estas aldeias quase desabitadas conseguimos extrair algumas historia daquelas gentes tão distante. Sítios com almas sofredoras, persistentes e resilientes ao tempo em que nem temos noção. Não me sinto só. Passei em Várzea Travessa meia dúzia de pessoas a quem cumprimentei, Portelinha já com um pé em Espanha, A-da Velha onde parei para comer atum enlatado com ovo cozido junto ao parque da igreja. Vem-se muitas casas antigas a venda, algumas são aproveitadas pelos nossos hermanos e compram-nas. Pelo caminho assisto a uma montaria onde homens armados pacientemente a beira da estrada sentados esperam o javali.

Continuei a caminhar pela estrada estreita, onde o aproveitamento da agua é notório nas suas bermas. Fui percorrendo alguns atalhos onde as cruzes em pedra estavam plantadas majestosamente por este povo tão religioso. Voltando aos caminhos em terra novamente sempre a descer e cruzava-me com uma sinalética até aqui desconhecida para mim, uma seta amarela mas com a ponta azul. Deduzo que indique dois caminho até um certo ponto onde bifurcava. Santiago e Fátima é bem possível. Para quem está habituado ao Ribatejo e encontra uma paisagem cheia de montanhas que mais parecem paredes, há sempre um sentimento de pequenez, de respeito e de admiração por tanta beleza natural. Cada terra tem a sua capela como seu lugar de culto, como a bonita capela de Souto Mendo de Cima. Fiães fica espetacularmente integrada na paisagem. Seguidamente Vila do Conde e a descida continua agressiva até Melgaço. Dura muito dura para quem leva uma mochila e decida começa a ficar mesmo a pique. Tão inclinada que resolvo andar aos esses para minimizar o impacto nos joelhos. Até ao fim foi duro para as pernas. Já em Melgaço e no AL estava cheio de imagens na mente e de emoções. Chatice o duche não ter funcionado. Lavei-me aos poucos no lava-loiças. Mesmo assim ao fim do dia dei uma falta a Vila e tirei mais uma fotos. A fome apertava e faltava tanto para o jantar, até que me encostei num bar de tapas e de vinhos maduros. Fui ficando até achar que estava jantado. Estava na hora de descansar. Ainda era cedo 8 da noite mas preparei tudo para o dia seguinte e descansei em cima da cama até me envolver em vale de lençóis. Vale a minha memória fotográfica para recordar esta etapa. As pessoas são espetaculares, não sou peregrino convencional mas gosto de vadiar conhecer e sentir. Estive noutro mundo, difrente mas admirável e como sempre a dificuldade em descreve-lo, de passar para o papel.

by PedroPimenta

15 de janeiro 2022

Expressos - 40€ + 5€

Jantar: Mini Zip - 12€

Dormida: AL Inês Negra - 2Noites - 60€

Táxi: Paulo Seixo 966224981 - 35€

Tapas: After Work - Bar & Tapas - 8€