


Caminho Nómada:
De Lamego a peso da régua.
Sempre achei um bom desafio a utilização de transportes públicos para nos deslocar a um local espetacular. A gestão e a interação humana que nos leva a fazer é sempre um conhecimento e uma aprendizagem.
Desta vez estudei a melhor maneira de ir até Lamego e caminhar até a Régua num só dia. Com saída num Expresso de Torres Novas as 8 horas, mudança em Coimbra, Viseu e Lamego. Chegada as 13horas. Viagem tranquila sempre a olhar pela janela as paisagens da beira baixa.
Mal cheguei comecei logo andar, estava previsto um dia muito quente. Adoro edifícios palacianos e ruas estreitas com arcos e símbolos religiosos. Estava no sítio certo; lá estava eu a regressar umas centenas de anos atras e a imaginar como se vivia. Entrei no Caminho de Santiago e fui seguindo pelas zonas antigas e pelo Castelo de Lamego. Depois de uma pequena subida foi sempre a descer. Monumentos, Solares, Quintas com vinhas, Alojamentos e simplesmente casas abandonadas. O Caminho entre o asfalto o empedrado e terra. Muitos símbolos religiosos dos quais um cruzeiro de 500 anos. Mas estava a ser duro estava a espera de encontrar alguns cafés abertos pelo caminho. Levava alguma comida, água que mais tarde revelou-se insuficiente.
Para quem mora no Ribatejo onde se vê o horizonte, o Douro é espetacular, colinas verdejantes bem cortadas e serras a perder de vista. Casarios de difícil aceso que mostram a vida dura de antigamente e ou possivelmente a de hoje. Para caminhar é espetacular apesar de percorrermos terrenos muito acidentados.
Muito calor, muito, nada bom para o nosso organismo a temperatura rondava os 38/39º. As temperaturas muito elevadas obrigam-me a reduzir a velocidade e por caminhos ladeados por muros de xisto faz com que possivelmente a temperatura em certos locais fosse bem mais alta.
Paro em Sande e descanso num lavadouro público. Café fechado e como o que me resta. A reação do calor esgota-nos substâncias fundamentais para a nossa motricidade, como os sais, açúcar e o sal e aos poucos vamos fraquejando.
Numa bifurcação duas sinaléticas do Caminho, eu escolho o mais curto, deixo os marcos oficiais e sigo as setas amarelas. Já pelo vale do Rio Varosa, um troço lindíssimo em que vou aproveitando algumas sombras. Nesta altura só espero não ter que subir, pois vou acusando o esforço. Os últimos 3 kms foram feitos na Nacional 2 e com alguma clarividência vi que só tinha 20 minutos para apanhar o último comboio as 16.47h. Fiquei preocupado porque, estava em ponto morto e a passada era curta e lenta. Ao entrar na Régua pela Ponte Pedonal, estava a ver que ia morrer na praia. Vi a aplicação e li que estava 10 mn. Atrasado. Toca acelerar o ritmo, que ao fim destes 12 k foram os mais rápidos. Ao mesmo tempo estava preocupado porque também não tive tempo para ir a um café e a viagem até ao porto é longa. Na estação chagamos ao mesmo tempo entrei na última porta e atirei me para cima de um banco. Tanto calor dentro da carruagem, mesmo com as janelas todos abertas. A única satisfação de momento é que assim já estava garantida a ligação ao Intercidades no Porto. ( a utilização do passe verde revelou-se uma mais-valia neste regresso que não teve custos adicionais). Mas os problemas ainda agora tinham começado, os batimentos cardíacos acelerados iam-me consumindo aos poucos e já não tinha mais nada para comer e água tinha acabado. Calcei as sandálias e pós me na janela apanhar ar, começava a má disposição. Olhei para o lado um casal de holandeses pedi lhes alguma água a que prontamente partilharam. Depois piorou, comecei a ver e a sentir as coisas muito ao longe e a perder lentamente a perceção das coisas e tudo a ficar esbranquiçado. Perguntei se tinha açúcar ( já devia de estar branco) se tinha algo doce. O jovem sentou se a minha frente e deu-me umas pastilhas que meti na boca e o efeito foi rápido e por final deu me um rebuçado. Apesar da boca seca melhorei. Quando cheguei a estação do Porto já estava bem melhor e agradeci ao casal que não deixou ir ao tapete.
Faltava 45 mn. para o Intercidades tempo suficiente para me sentar numa cervejaria e vingar-me. Uma omelete mista, imperiais, café e 1.5 de água. Níveis restabelecidos e a viagem de regresso correu lindamente com chegada a casa 22.00horas do mesmo dia. Desta caminhada foram tiradas algumas elações com a certeza de que para a próxima será muito diferente. Adorei a zona que visitei, simplesmente fantástica, Com o estado do tempo normal esta se faz perfeitamente num dia, pois perdi muito tempo a descansar devido ao calor.
Pedro Pimenta
09/06/25